Adivinha quem foi em uma festa junina?!
Ok, eu sei que isso não parece muito excitante, mas, por favor, entenda que a minha vida social é uma sucessão de eventos que me fazem querer ficar em casa. Portanto, uma festa junina é mais do que um evento, é uma realização pessoal.
O mais interessante foi que esse rolê se deu em uma igreja, algo que sempre me causa um certo fascínio, já que essa é uma festividade com origem pagã.
De acordo com historiadores, as festas juninas eram rituais de fertilidade agrícola realizadas pelos antigos povos germânicos, mas, com o cristianismo, a comemoração se tornou uma celebração religiosa. Eu queria muito saber como exatamente aconteceu esse turning point. Um sacerdote chegou no Papa e disse:
- Ei, saca só isso aqui…
- Mas que heresia é essa?! Tire isso da minha frente! Eu tenho cara de pagão agora?
- Eu sei, eu sei; parece terrível. Mas experimenta primeiro. Chama pé de moleque.
Por outro lado, alguém precisa avisar o pessoal das paróquias que a festa junina atenta diretamente contra os princípios cristãos. No espaço de uma hora, acredito que cometi todos os pecados capitais temidos pela igreja católica.
Senti soberba porque venci na pescaria e foi difícil não me achar melhor do que os outros. Senti a avareza andando pra cima e pra baixo com as minhas fichinhas. Senti inveja de quem conseguiu comer a canjica de amendoim antes de ter acabado. Senti ira esperando em filas. E diria que senti uma estranha combinação de gula e luxúria, já que nada me dá mais prazer do que comer.
E, claro, senti preguiça porque dificilmente vou repetir esse programa tão cedo.
Enfim, cometi uma infinidade de pecados nesse curto espaço de tempo e considero um verdadeiro milagre a igreja não ter entrado em combustão instantânea com a minha presença. Mas, convenhamos, se Deus quisesse que pecados não fossem cometidos não seria tão bom cometê-los, certo? Gula? Incrível. Luxúria nem se fala. E a preguiça? Quem em sã consciência não gosta de ficar deitado no sofá sem fazer nada? Como isso pode ser um pecado? Mesmo a soberba que parece indefensável é justamente o caminho que muitos livros de autoajuda percorrem. Se sentir melhor do que os outros é uma estratégia que visa o amor-próprio. Pecar é bom demais.
E ninguém peca porque quer. Isso é importante. Acontece. Às vezes sentimos gula, preguiça, ira e por aí vai; é normal. O contrário é igualmente verdade também. Eu, por exemplo, adoraria ter mais luxúria na minha vida, mas o universo não colabora.
E, por último, nem a própria igreja está livre dos pecados.
Você já foi à uma missa? Já viu a quantidade de coroinhas, ministros e outros tipos de servidores fazendo coisas para o padre? Se isso não é preguiça, não sei mais o que é.
A avareza é a qualidade de quem é avarento, de quem tem apego excessivo às riquezas. Eu também considero esse um problema profundo e grave, mas costumo chamá-lo de “capitalismo”. Agora, quem é o Papa pra falar de avareza morando em uma casa feita de ouro? Eu acho que é por isso que Jesus não voltou ainda. Quando falaram para ele onde o Papa morava, Jesus disse: “Não é possível. Devo ter errado o endereço. Vou procurar em outro lugar”.
A gula também não fica de fora. Praticamente todas as festividades da igreja envolvem comida. Na Semana Santa come-se peixe como se não existisse amanhã. O Natal então é toda uma celebração cujo objetivo final culmina em um baquete. É justamente por essa razão que a discussão sobre Estado Laico me gera um enorme conflito. Veja bem, não acho justo existirem feriados nacionais cristãos, mas também não seria incrível se todas as religiões tivessem seus próprios feriados? Imagina o tanto de comida que estamos perdendo! E outra, existe uma história que o Papa Paulo II morreu pela boca, em 1471, quando caiu duro no chão depois de comer dois melões sozinho. Que moral essa instituição tem para opinar na minha dieta? Faça-me o favor!
E falando em pecados, precisamos falar sobre Barry.
Finalmente assisti a nova temporada de uma das minhas séries favoritas, Barry.
Existem muitas coisas boas para falar dessa história criada por Alec Berg e Bill Hader, que também protagoniza o seriado. Mas vamos por partes. Se você não sabe do que estou falando, explico. Barry é uma série de tevê que acompanha um ex-fuzileiro naval que trabalha como matador de aluguel no Centro-Oeste americano. Solitário, sem rumo e insatisfeito com sua vida, ele viaja para Los Angeles para mais um trabalho e acaba encontrando uma comunidade acolhedora em um grupo de atores aspirantes da cena teatral da cidade. Ele resolve entrar no grupo e largar a vida de matador, mas seu atual chefe no mundo crime irá fazer de tudo para não perder o seu melhor funcionário.
Quando estreou em 2018, Barry era uma comédia de humor negro sobre um sujeito incrivelmente desajustado tentando viver uma vida normal, enfrentando o dilema e as dificuldades de largar a profissão de assassino de aluguel. Porém, aos poucos, a série foi abandonando essa premissa base e focando cada vez mais no mundo que rodeava o protagonista, e, hoje, é meio difícil dizer qual é o centro narrativo da história (até mesmo o gênero).
Se a primeira temporada era sobre a tentativa desse homem de deixar uma antiga vida para trás, a segunda temporada foi sobre fazer o possível (e o impossível) para se manter no mundo dos sonhos. A terceira temporada, no entanto, foi a queda, episódio por episódio, semana a semana, desse castelo de areia.
E é interessante como essa sensação de “perda de controle da própria vida" também reflete na trajetória de outros personagens da série. Cada pessoa no círculo íntimo do protagonista vê seu mundo particular desabar por completo. A série parece destinada a fazer com que cada um desses personagens encare seus pecados de frente.
Uma coisa que me ficou evidente desde o primeiro episódio dessa série é que nunca foi uma história sobre redenção. Alguma coisa sempre me fez pensar o contrário e essa temporada confirmou isso. A descida íngreme do protagonista não o torna apenas incapaz de redenção, mas também incapaz de controlar as consequências de suas ações. Na primeira temporada, Barry entrou em um caminhão. Na segunda, ele colocou o caminhão em uma ladeira íngreme. E na terceira, ele soltou o freio de mão. A quarta temporada provavelmente vai ser o estrago ladeira abaixo. A questão que permanece é se ainda existe algo para ser salvo no fim.
E não dá pra falar de redenção sem mencionar o novo especial do Bo Burnham.
Depois do seu aclamado especial de comédia lançado pela Netflix, Inside, o humorista decidiu lançar um novo show com as “sobras” desse último projeto.
E posso dizer com uma certa segurança que gostei mais desse aqui. Explico.
Muitos dos problemas que tive com Inside decorrem do período em que foi lançado. Ele atingiu um nervo muito específico em um período em que as pessoas podiam se identificar (e precisavam) com os efeitos colaterais do isolamento social. Parecia algo muito “do momento”, especialmente agora que temos um panorama mais abrangente da pandemia. Embora tenha momentos brilhantes e interessantes, esse lugar factual de Inside não me agradou, já que é onde se encontra a maior parte da força emocional da obra. Porém, um ano depois, o comediante surpreende com The Inside Outtakes.
Agora, é menos uma peça de época e mais uma obra que reflete sobre os processos de criação, o que é sempre interessante de observar em artistas interessantes como ele.
The Inside Outtakes é estranho, inteligente e parece mais interessado em fazer rir do que qualquer outra coisa - uma ambição e tanto, diga-se de passagem. É debochado. Deboche é a palavra certa para esse especial. Debochado ao falar da publicidade na internet. Debochado ao retratar os podcasts de comediantes que acham que tem algo a dizer, mas são vazios como um pires. Debochado ao parodiar uma música do Drake. Um deboche que, no fim, termina em uma música sobre uma galinha atravessando a rua para fugir da mundanidade de sua vida. É heresia pura.
The Inside Outtakes está disponível no YouTube. Clique aqui e assista.
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